Cap. 60
Lucretia: — Como está o prefeito McQueen?
Padre: — Parecia mal. Precisa de um médico.
Lucretia, cínica: — E você não fez nada?
Padre, sem olhar para ela: — Ele precisa de um médico. Eu não sou médico. Se ele estivesse morto eu faria uma extremunhão, mas ele ainda não morreu. Verei se acho um médico em New Heaven.
Lucretia, revirando os olhos: — É extrema-unção, seu animal. Você ainda não aprendeu?
Padre, mais irritado a cada palavra: — Quer que eu faça a sua extrema-unção, coisa pecadora?
Lucretia, mantendo o cinismo: — Você teria que rezar muito mais, e direito, para ter alguma chance, querido.
Westwood emparelha seu cavalo e encara Lucretia: — Quer resolver isso agora, aberração dos infernos?
Lucretia, devolvendo a encarada sem piscar: — Primeiro vou descobrir se Wayne está bem, depois voltamos a esse assunto.
Os dois seguem em silêncio por mais alguns minutos.
Lucretia: — Por que você deixou que ele fosse até New Heaven sozinho com um estranho?
Padre: — Ele é o maldito xerife! Eu não sou o maldito pai dele. Eu não me importo com ele, só estou indo até New Heaven para ter certeza de que não vai aparecer mais ninguém na minha capela para tentar me matar.
Westwood continua: — Se você se importa tanto, por que não foi junto com ele?
Lucretia aperta o lábio superior com os dentes antes de falar com a voz baixa: — Você sabe que ele não gosta de ser visto comigo... vive fugindo de mim...
— Há! — desdenha o padre sem piedade ou empatia. — Por que será?
— Ah, meu querido padre! — devolve Lucretia, já recomposta após inspirar o ar gelado do deserto à noite. — Você precisa mesmo ir até New Heaven para descobrir se existe mais alguém querendo te matar? Suspeito que não precisaria nem sair de Rotten Root para encontrar alguém.
A dona do cabaré conclui: — Na verdade, acho que um espelho já lhe daria a reposta.
Ela acelera seu cavalo com as rédeas, deixando para trás um Westwood resignado que não faz questão de alcançá-la.
Os dois galopam em silêncio, evitando mais agressões e desabafos até chegarem em New Heaven.
